Qual
o caminho?
Descendente
de uma terra diferente, uma terra que não progride há épocas a esta parte
condicionada e manietada pela sobrevivência e parada no tempo.
O
povo desta terra viveu iludido desde a década de sessenta, uma ilusão que o manietou,
que lhe tirou as oportunidades, que não o deixou progredir.
Ao
contrário de outras regiões não houve por aqui uma migração massiva para os
grandes centros, Porto e Lisboa principalmente alguns ainda arriscaram sair para
a Europa, poucos aventuraram as Américas, os mais afoitos preferiram a África,
no entanto a maioria ficou.
Ficou
manietada por uma sobrevivência fácil, aqui foi o têxtil que veio ter com a população,
parecia um conto de fadas, fabricas espalhadas por todo o Vale do Ave, o povo
trabalhava oito horas nas ditas fábricas (muito generosas e confortáveis à data)
no entanto este presente estava envenenado, como os ordenados eram demasiado
baixos para os operários sustentarem as suas numerosas famílias, era preciso
trabalhar a terra, pequenos cubículos entre muros.
A
pouca ou inexistente organização impediu que se formassem cooperativas capazes
de dar uma resposta condizente com a necessidade das pessoas, portanto elas
trabalhavam a terra no pós horário fabril para subsistirem, o ordenado vindo do
têxtil não chegava, nem interessava aos empresários que chegasse.
Por
aqui a estratégia foi diferente, erguer fábricas nos meios rurais e manietar os
habitantes.
As
gerações sucederam-se e o plano dos industriais funcionou “às mil maravilhas”,
lucro, muito lucro (chegaram a manter clubes de futebol equipes de ciclismo…) e
pessoas resignadas (manietadas), convencidas que estavam no céu como prometia o
clero também ele envolvido em interesses financeiros…
Os
anos passaram e nova geração chegou, esta reparou que na passagem do milénio
choveram mudanças, e facilidades económicas desta vez a partir dos banqueiros,
os mesmos que tinham sido empresários (patrões) na década anterior numa
tentativa vorás de segurar o povo ou a nova geração melhor dizendo.
Chegou
a maldita crise, e os ditos (patrões) resolveram logo o seu problema,
deslocaram as suas produções para o oriente, foram escravizar outros povos e
deixaram o vale (do Ave) à mercê da miséria, uma região inteira que nunca
trabalhou em mais nada que não fosse o têxtil, uma população pouco culta, sem
formação, sem ideias e habituada a um baixo ordenado, mas constante o que permitia
não passar necessidades, passa agora um período negro.
Esta
geração está a braços com outro enorme problema, não tem trabalho, está na sua maioria
dependente de subsídio de desemprego, quando este acabar como será? Velhos para
trabalhar ou imigrar, pouco cultos, sem capacidade para receber formação,
demasiado novos para a reforma se esta ainda existir quando tiverem idade para
isso, é portanto uma geração não à rasca mas enrascada.
E
agora?
Agora,
agora as complicações aproximam-se, os filhos desta geração têm mais cultura,
tiveram uma infância farta, com muitos excessos aliás, têm que estudar obrigatoriamente
até à idade adulta, estão a ser formados e não têm expectativas de futuro…
Os
patrões do passado, banqueiros da actualidade preparam-se agora para reivindicar
o dinheiro dos empréstimos que impingiram às pessoas, mesmo sabendo que estas
não têm como pagar, mesmo conscientes que foram as gerações anteriores que lhes
facultaram as suas incontáveis fortunas numa espécie de escravatura encoberta.
Mais
uma geração chegará, mais uma geração estará manietada num Vale do Ave ainda à
deriva, preso a um passado diferente, um passado em que os grandes empresários
do têxtil enganaram o povo.
Creio
que o povo deste vale segue mesmo o “caminho do abismo”.
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